Problema estrutural na Implementação dos livros digitais em escolas

EstruturaAntes dos e-books serem um caminho para a escola Ednei Procópio (integrante da Comissão do Livro Digital da CBL e diretor da Livrus) diz que há um problema estrutural de educação no país. O livro digital pode ajudar mas ele é um fim, não um meio. Esse é o maior problema da educação com relação ao digital, o digital é um meio para a educação e não um fim.

Primeiro a parte estrutural, segundo acompanhado pedagógico e depois a parte de conteúdo. Essa parte quem cuida são as editoras, e se o governo não sabe o que quer, as editoras não conseguem entregar aquilo que o governo pede. É a mesma coisa que pegar livros impressos e colocar nas escolas. Se não houver um plano pedagógico adequado, aqueles livros de nada servirão. Pense isso nos tablets. Se não houver um acordo pedagógico entre diretoria, professores, governo e alunos, não se faz nada com os tablets. O tablet sem conteúdo é como uma folha de papel em branco. Então temos que tomar cuidado, o que nós queremos na educação. Queremos, por exemplo, que as crianças aprendam a ler e a escrever. Dito isso, os hardwares podem ajudar nessa dinâmica? De que forma?

O governo está aprendendo, sabe que existem diversos serviços e fenômenos como o facebook, twitter, whatsapp,  e-book, ePub,  Kindle. Reconhece uma atmosfera que esta se formando, mas como ele transforma isso em benefício da educação do país?

O governo precisa resolver o problema do acesso, a questão estrutural da internet. Quando se fala em tecnologia para educação um dos problemas estruturais é o cabeamento, a conexão. Em seguida, é a formação docente adequada. E depois vem o conteúdo.

Deveríamos continuar com o livro impresso até aprendermos a usar o livro digital nas escolas.

Próxima tópico.

Livro digital e educação

Bia Kunze Fonte: Garota sem fio

A consultora de tecnologia móvel Beatriz Kunze respondeu em entrevista para esse blog:  para jovens, uma geração que já nasceu conectada as novas mídias são agentes motivadores da leitura, para o compartilhamento em redes sociais o que lê, citações, discussões, etc. Alem disso, é possível aumentar a motivação das crianças  através de experiências multimídias nos tablets.

A Bia destaca algumas vantagem dos livros digitais na educação no Brasil que a principal é a logística . O país é muito grande e tem problemas muito sérios de infraestrutura, para os livros chegarem aos lugares mais remotos nas escolas mais periféricas os livros digitais seriam uma solução interessante, sendo necessário investimento na infraestrutura básica como internet no meio rural.

Facilidade de acesso por parte das comunidades, crianças estudantes disponibilizando uma  variedade imensa de títulos, talvez pensando localmente elas jamais teriam esse acesso.

Além de ser motivador trazer novas mídias em sala de aula para uma geração que já nasceu conectada, há ganho de tempo para professores e alunos. Com um livro digital, suporte multimídia é possível fazer a lição de casa  e já receber correção explicando os acertos e erros, já chega para o professor ele analisa o que errou ou acertou tudo em tempo real, sobra mais tempo em sala para discussão, aulas mais opinativas e estimulação da criatividade.

No Brasil o material didático tem que ser conservado, pois vai ser reutilizado por outras crianças. A utilização de livros digitais otimizaria o material utilizado pelas gerações de crianças além de reduzir o tempo perdido copiando o conteúdo do livro, e da lousa podendo exercer outras atividades

Próximo tópico.

Entrevista Ednei Procópio

Como está hoje a publicação de livros eletrônicos no Brasil? Há pouco tempo havia uma diversidade muito grande de plataformas e ferramentas.

Hoje está um pouco mais homogêneo porque já se definiram algumas distribuidoras, algumas livrarias e algumas plataformas, com isso está mais fácil de trabalhar.

O mercado tem duas distribuidoras, a Xeriph no Rio de Janeiro, e a Arcaiaca em São Paulo. Tem esse modelo de distribuidora mais ou menos definido e tem outro modelo, o de consórcio, formada por várias editoras tradicionais.

Quanto às livrarias, também está mais definido. Tem a Cultura, Saraiva, Iba da Editora Abril, tem a Nuvem de Livros, a Google Play.

Com relação às plataformas, não tem mais só a comercialização do livro, ou a distribuição, elas têm também soluções de tecnologia, ou seja, hardware e software, caso da Amazon, com a plataforma Kindle, e a Kobo com a plataforma Kobo, e a Google com a plataforma Android. E a Apple, que está cada vez mais próxima.

Como é a produção? Em que se pensa quando se faz um livro digital?

Vou falar especificamente da Livrus, que talvez reflita o mercado lá fora. Aqui dividimos a empresa em três partes para os 3 processos principais: publicação, comercialização e divulgação.

Dentro da publicação você tem a fábrica de livros, em que se tem todo o processo editorial, da revisão de texto até a conversão de títulos.

Na parte de comercialização você pode ou comercializar no e-commerce próprio ou enviar para e-commerce de terceiros. Nesse último, pode-se enviar direto para uma livraria ou direto para uma distribuidora, e ela encaminha para as livrarias.

A divulgação é basicamente via mídias sociais e digitais, você usa todos os blogs, redes sociais, aplicativos e plataformas como meio de divulgação.

É necessário ter uma equipe grande na empresa?

Tem de ter pelo menos 3 líderes. Tem de ter o editor que cuida da publicação, uma pessoa que cuida da parte comercial como segundo líder. E uma terceira pessoa na divulgação. Então são 3 líderes, um que entenda de publicação, um que entenda de comercialização e um que entenda de divulgação. Abaixo delas, pode ter uma equipe grande ou uma pequena dependendo de cada editora.

No caso da Livrus, há muita terceirização?

Na publicação, temos um editor executivo, abaixo dele o corpo editorial (revisor, diagramador) é terceirizado. No futuro, pode ser que achemos interessante ter um revisor e um diagramador na casa.

Comercialização também tem uma pessoa interna, mas nesse caso específico, não precisa ter pessoas dentro da empresa porque as distribuidoras e as livrarias estão por fora, precisa só de uma pessoa para manter contato com a Google, a Saraiva……….

No caso da divulgação, a pessoa interna cuida de divulgar nossos livros principalmente em blogs, redes sociais e um pouco em mídia impressa também, que hoje é válido.

Colocar livros nas livrarias é difícil, caro?

No caso do livro físico, há dois trabalhos a ser feito: cadastrar os livros na livraria e um trabalho de logística, encaminhar os livros até a livraria e as distribuidoras. No caso da Livrus, que é uma editora pequena e torna-se muito trabalhoso colocar em pacotes etc., enviamos direto às distribuidoras e ajudamos a cadastrar nas livrarias, mas quem cuida da logística é a distribuira.

No caso de livros eletrônicos, o maior trabalho é cadastrar o livro, o que chamamos cadastro de metadados (autor, título, ISBN, ano, etc.). Feito o cadastro e o upload do arquivo do livro, não há mais trabalho na parte comercial, você basicamente aciona a divulgação, aguarda o livro vender e recebe o percentual das vendas. Elimina a logística impressa mas o que está acontecendo é que parte dos leitores lê livro impresso, então, felizmente ou infelizmente, você é meio que obrigado a publicar livros impressos.

E o mercado não sabe como vai ser o futuro, se as pessoas vão preferir só livro impresso, só livro eletrônico ou os dois.

Sobre os dados das editoras, com relação ao lucro com livros digitais, dados de um  diretor da Editora da Unesp, Jézio Hernani, numa palestra na Feira de Frankfurt, ele dizia que em 2009 essa porcentagem de lucro nas editoras, nos Estados Unidos, era de 0,4% e poucos meses depois, em 2010, pulou para 4%, chegando no final de 2011 a atingir 20%.

Os números estão corretos, mas consideremos que o mercado editorial americano é gigantesco. A Amazon é apenas um recorte desse mercado, e dentro do case Amazon ela vende mais livros eletrônicos, ou seja, arquivos, do que unidades impressas, porém ela não diz qual o faturamento com livro impresso e com livro eletrônico, talvez ela lucre mais com livro impresso que com livro eletrônico embora venda mais unidades eletrônicas. Outra coisa, o quanto desse faturamento reflete dentro das editoras. Aí cai nesse 20% mencionado, que hoje pode já estar em 30%,  e que pode ser o faturamento das editoras.

Ou seja, nem a Amazon nem as editoras faturam mais com o eletrônico. A Amazon vende mais eletrônico e fatura menos, e as editoras continuam vendendo e faturando mais com livros impressos.

Há dados do Ibope aqui no Brasil que diz que a penetração dos e-books chega a 9,5  milhões. E que menos 50% da população brasileira admite ler ao menos um livro impresso. Então dos 50% da população que lê, esses 9,5 milhões representariam 10% da população ativa de leitores de eletrônicos no Brasil.

O Ibope diz isso por conta dos aparelhos que estão nas mãos das pessoas. Você tem hoje um aparelho celular por habitante (alguns têm mais).

Há números que dizem que já ultrapassamos 250 milhões de linhas e por consequência, de aparelhos. Mas os aparelhos de celular não servem para a leitura de livros eletrônicos, e sim o smartphone, que tem tela maior, ou o tablete. Então o Ibope está se referindo ao fato de que há pessoas com tablets, e-readers e smarts. E essa é a penetração. Não quer dizer que esse contingente acesse, compre e leia livro digital.

E esse número de leitores, podemos falar em 10 milhões de leitores, não são os mesmos que lêem livros impressos, são dois públicos, dois consumidores totalmente diferentes.

Não são aqueles que sempre se interessaram por livros?

Pode ser que se confundam e se complementem mas não é a mesma pessoa. O leitor digital, que é a pessoa que consome o tablete, o smart e o e-reader, é outro público.

Eu diria que o digital está formando uma nova leva de leitores. Não está excluindo a anterior, essa vai continuar a ler em papel, está somando um público novo, um leitor novo que vai consumir coisas novas.

Então os e-books podem ser um caminho para as escolas? Porque os alunos são  muito abertos às novas mídias.

Antes, há um problema estrutural de educação no país. O livro digital pode ajudar mas ele é um fim, não um meio. Esse é o maior problema da educação com relação ao digital, o digital é um meio para a educação e não um fim.

Quando um ministro fala na distribuição de tablets, em banda larga para todos, está pensando nisso tudo? Pode ajudar a melhorar a educação?

Não, está pensando em política partidária, em eleição. Quando se fala em banda larga para todos, o governo sabe que tem esse dado faltando, então usa em benefício próprio, o mesmo acontece quando o governo tem um projeto habitacional e usa isso como plataforma partidária.

Tablet para todos nada mais é que uma forma do governo fazer campanha dizendo que o governo está incentivando o consumo de mídias digitais na educação. Mas se for por esse viés, está dizendo que o tablet vai resolver o problema da educação e sabemos que não resolve.

No caso da banda larga, o acesso á internet é um problema estrutural do país como um todo, que reflete na educação.

 Numa entrevista que fizemos com uma editora de livros didáticos, ela diz sobre os planos de livros didáticos do governo, que o governo não sabe ainda muito bem o que fazer com relação ao digital.

É porque colocamos a carroça na frente dos bois. Há uma demanda pelo livro digital didático, há essa percepção, mas o governo não reflete sobre isso e não tem como resolver esse problema, então compra-se tablets como se isso fosse resolver os problemas da educação.

Se não vier com a parte pedagógica junto nisso tudo…

Tem primeiro a parte estrutural e depois a parte de conteúdo. Essa parte quem cuida são as editoras, e se o governo não sabe o que quer, as editoras não conseguem entregar aquilo que o governo pede. É a mesma coisa que pegar livros impressos e colocar nas escolas. Se não houver um plano pedagógico adequado, aqueles livros de nada servirão. Pense isso nos tablets. Se não houver um acordo pedagógico entre diretoria, professores, governo e alunos, não se faz nada com os tablets. O tablet sem conteúdo é como uma folha de papel em branco. Então temos que tomar cuidado, o que nós queremos na educação? Queremos, por exemplo, que as crianças aprendam a ler e a escrever. Dito isso, os hardwares podem ajudar nessa dinâmica? De que forma? Aí sim, você faz a interlocução.

O governo está aprendendo, sabe que existe um tal de facebook, existe um tal de twitter, um tal de wapzap, um tal de e-book. E sabe que existe um tal de ePub, e um tal de Kindle. Sabe que existe uma atmosfera se formando, mas como ele transforma isso em benefício da educação do país?

Se o governo resolvesse o problema do acesso estava bom, ajudaria quem sabe fazer. Então a questão estrutural da internet é bem mais ampla, acho que os professores e alunos terem acesso à internet é mais importante, é o estágio anterior ao conteúdo. Quando se fala em tecnologia para educação um dos problemas estruturais é o cabeamento, a conexão. É a primeira coisa. Em seguida, é a formação docente adequada. E depois vem o conteúdo. Aí está quando digo que estão trocando tudo, colocando a carroça na frente dos bois.

[…] Deveria continuar com o livro impresso até aprendermos a usar o livro digital nas escolas.

Num país como esse, com essa dimensão e com tantas diferenças regionais, e sendo cogitado o livro digital nas licitações para 2016, como resolver já essas questões estruturais?

Sim, há amplas diferenças culturais. Veja bem, se o livro digital é tudo isso que estão dizendo, as escolas privadas já estariam fazendo, porque têm condições de serem mais rápidas. Tem escolas fazendo mas são projetos muito localizados. E é mais experiência e um pouco de marketing.

Tem uma escola em São Paulo que está ensinando os alunos, ao invés de consumir a Wikipédia, ensinam a criar e atualizar verbetes. Aí faz sentido. Aí é o novo mundo. Ensina o aluno a produzir conteúdo, pesquisar, a não acreditar em tudo o que se lê na internet. Está aí um método pedagógico para ensinar a usar as mídias digitais de modo correto. E como fazem isso? No tablet. Estão criando conteudistas do futuro. E não tem a ver com livro eletrônico, tem a ver com o mundo digital na educação.

[…] Há outras questões a considerar. Quem definirá as plataformas, se será Android, ou iOS da Apple, ou plataformas abertas, Linux, etc.? É uma discussão de padrão como ocorreu com a TV digital no Brasil, que levou anos para se chegar num acordo. E se o governo não determinar isso, cada editora entregará o livro numa plataforma própria. O que leva a um contra-senso, haverá um problema de inoperabilidade.

O problema do livro didático digital é um problema do que é público e privado. As grandes editoras tenderão a querer que sua plataforma se sobreponha às outras. Um livro impresso cabe em qualquer biblioteca, em qualquer estante, de aluno ou de professor, mas o livro eletrônico não. Cai numa questão que sempre destaco, tem de haver uma convergência perfeita dos três: hardware, software e conteúdo.

 A CBL está nessa discussão? Pode interferir?

A Câmara Brasileira do Livro está em todas as discussões, é sempre convidada para conversar a respeito desse assunto. Mas as associações que representam o livro didático estão mais próximas do governo e sempre são chamadas para conversar sobre essa pauta.

 Sobre a formação do editor, do gestor de uma editora de livro digital, qual é ela?

É tão multidisciplinar… Há pessoas de várias áreas. Eu, por exemplo, tenho formação na área de Ciências Humanas, a vantagem é que te dá uma visão global na hora de selecionar os títulos. Quem tem formação específica editorial precisa buscar um conhecimento a mais na área de Humanas.

 Você tem formação em Humanas, mas entende bem de tecnologia.

Quem tem formação técnica em tecnologia não tem a visão global de mercado. O tecnólogo resolve questões bem pontuais de tecnologia.

É uma visão multidisciplinar mesmo. Quem tem formação mais técnica tem que buscar conhecimento mais das Humanas e quem tem formação em Humanas, tem que buscar obrigatoriamente conhecimento técnico.

Os livros digitais, por seu processo mais rápido de edição, não são marginalizados, vistos de forma não tão séria?

Muitas vezes o que era underground hoje é mainstream. Como aconteceu com a literatura fantástica, por exemplo.

Existe um preconceito por existir a produção independente, o autor pagar sua obra, mas devemos separar o modus operandi da questão da independência financeira.  Existe o corpo editorial, o livro tem de ter qualidade editorial.

Nesse mundo da publicação digital então, o autor é mais dono do seu livro?

Ele é mais dono de sua carreira. Pois o livro é sempre do autor, a lei de direitos autorais lhe garante esse direito. A editora explora a obra comercialmente, investe, trabalha para a obra dar certo, mas o livro é sempre do escritor.

Podemos dizer que ele é mais independente, opina mais no seu livro. É uma mudança positiva. O que precisa é o autor aprender a ouvir o corpo editorial porque o autor acha que sabe a melhor capa, o melhor título etc. mas não sabe, não tem a visão comercial.

É nisso que a cultura digital ajuda. O autor tem que ser mais maleável e a editora tem que ouvir a opinião do autor.

Uma editora de livro eletrônico publica uma diversidade grande de títulos, não tem a linha editorial como as editoras de livro impresso?

As editoras convencionais passaram 200 anos aprendendo a fazer livro. Quando aprenderam a fazer livro automaticamente se verticalizaram, optaram por trabalhar segmentado, por motivos de identificação com o público, conhecem a quem se dirigem, o que facilita na comunicação. Se verticalizaram na comunicação.

Estamos começando de novo, as ferramentas digitais estão na mão de todo mundo, a ferramenta é barata permitindo que a editora publique todo tipo de título. É nesse estágio que estamos. Acredito que o próximo estágio é as editoras virtuais se especializarem novamente. 

O que faz você acreditar que elas vão se especializar?

A identificação do público. A comunicação direta com o público. É mais fácil você se especializar e conversar com aquele público específico do que pulverizar para todo mundo. Está tudo começando agora, então você não percebe a expertise delas, mas existe. Parece que e tudo ao mesmo tempo agora, mas não é.

Voltando aos didáticos, qual seria a primeira coisa para se especializar em livro digital?

Acho que o primeiro grande passo é o entendimento. O professor precisa entender, o aluno, o governo e a editora precisam entender o que é livro digital. De novo o entendimento. Não é o entendimento técnico, do hardware ou software, é um entendimento do que é o conteúdo, talvez. Como é produzido, como pode ser entregue, como pode ser consumido. Esse é o primeiro passo, nós não estamos nos entendendo, cada uma está fazendo uma coisa. Se todos entenderem, fica mais fácil dar os próximos passos.

Que tipo de experiência os leitores, os usuários, estão buscando no digital? Interatividade?

Acho que não é a interatividade, ela vem depois. Acho que é o acesso à leitura digital. A primeira coisa que precisa é dar acesso às pessoas. A pessoa não tem acesso porque não tem o hardware, o software e o conteúdo.

É análogo ao livro impresso. No caso hardware papel, o software papel, o conteúdo papel você tem a facilidade do acesso. Onde está o acesso? Está na livraria, na biblioteca, na banca de jornal. No eletrônico onde está o acesso? Preciso ter um hardware, tenho que ter acesso à internet, um aplicativo instalado, e depois tenho que ter o conteúdo. O que é mais fácil, acessar um livro eletrônico ou um impresso? O impresso? E o que é melhor? O impresso, porque é mais facilmente acessado. Estamos falando de acesso. Acessar um cinema, acessar um aparelho de cultura, acessar uma biblioteca, um teatro.

Então, o primeiro passo é o entendimento, e o segundo é o acesso. A parte técnica deve ficar fora. Está se fetichizando a tecnologia em detrimento ao acesso. A indústria de tecnologia cria o fetiche justamente para te vender a solução.

Por último, há algo mais que queira dizer, algo que não tenhamos perguntado?

Eu resumiria da seguinte maneira. Hoje os olhos das pessoas estão voltados para as telas, tela de um Playstation portátil, tela de um Nintendo DS, tela de tablet, smartphone, tela de um celular, de um gravador de MP3. E tela de cinema, TV, no metrô, ônibus. Com isso, o livro tem de estar nas telas. Então o entendimento que o governo e as editoras também precisam ter é que não importa a tela, tem de estar dentro de uma, nem que o livro eletrônico seja lido numa lousa digital.

 

Entrevista realizada com a consultora de tecnologia móvel Bia Kunze em abril de 2013.

Entrevista realizada com a consultora de tecnologia móvel Bia Kunze em abril de 2013.

O livro digital pode ser um agente motivador da leitura?

Para jovens, uma geração que já nasceu conectada, sim. Novas mídias são agentes motivadores não apenas para leitura, mas para que se compartilhe em redes sociais o que lê, citações, discussões, etc. Alem disso, é possível aumentar a motivação das crianças  através de experiências multimídias nos tablets.

 

A tendência do livro impresso é o desaparecimento?

Acredito que não pois, o livro impresso apresenta inúmeras vantagens como: a existência da cultura predominante deste e a pré-existência de bibliotecas e livrarias; a possibilidade de empréstimo de livros; os livros não possuem bateria, não sendo necessário pagar um alto custo por uma plataforma eletrônica como tablets ou e-reader como um sistema de suporte dos livros. Além disso, envolve toda uma cultura já estabelecida: aconteceu com o cinema, tv, internet (ninguém matou ninguém) são meios de suporte que podem coexistir muito bem. Livros impressos tendem a coexistir com os digitais.

 

Quais as vantagens dos livros digitais pensando na educação?

No Brasil eu destaco a logística como principal vantagem. O país é muito grande e tem problemas muito sérios de infraestrutura, para os livros chegarem aos lugares mais remotos nas escolas mais periféricas os livros digitais seriam uma solução interessante, sendo necessário investimento na infraestrutura básica como internet no meio rural.

Facilidade de acesso por parte das comunidades, crianças estudantes disponibilizando uma  variedade imensa de títulos, talvez pensando localmente elas jamais teriam esse acesso.

Além de ser motivador trazer novas mídias em sala de aula para uma geração que já nasceu conectada, há ganho de tempo para professores e alunos. Com um livro digital, suporte multimídia é possível fazer a lição de casa  e já receber correção explicando os acertos e erros, já chega para o professor ele analisa o que errou ou acertou tudo em tempo real, sobra mais tempo em sala para discussão, aulas mais opinativas e estimulação da criatividade.

No Brasil o material didático tem que ser conservado, pois vai ser reutilizado por outras crianças. A utilização de livros digitais otimizaria o material utilizado pelas gerações de crianças além de reduzir o tempo perdido copiando o conteúdo do livro, e da lousa podendo exercer outras atividades.

 

Quais suas experiência como leitora de e-books ?

Desde cedo tive o habito da leitura e sempre anotava os principais tópicos e fazia um resumo dos livros lidos. Hoje Fasso todas as anotações em meio digital. Os livros digitais ajudam no sentido de carregar menos peso, nunca leio só um livro ao mesmo tempo sempre dois ou três.

Já usei todas as plataformas, e não considero nenhuma a definitivas. Para materiais como livros técnicos em pdf, atlas de patologia, laminas de microscópios, livros bem ilustrados uso iPad. Para leituras tradicionais ou romances, longos períodos de leitura uso e-readers devido à tecnologia de tinta eletrônica que não “força a vista”.

Outra tendência é ecossistema da leitura o usuário não vai ler em uma plataforma só. A convergência das plataformas surgira como o aumento de leitores, o mais difícil é conquista uma base de leitores de livros digitais.

O uso de livros digitais foi uma necessidade queria levar os livros em um dispositivo pequeno, exemplo um guia farmacêutico, assim poderia ter a disposição para consultas se necessário e sem carregar muito peso. É preciso enxergar necessidade do uso dos livros digitais na sua rotina para poder transpor no seu dia a dia.

Enxergar o livro digital não como concorrente do livro de papel, mas uma oportunidade. Existe um grande mercado a ser conquistado de pessoas que não lê é necessário usar todas as armas para trazer o máximo de pessoas para o universo da leitura. Para as novas gerações conectadas até tem o interesse em ler é necessário conhecer bem os novos leitores e ter criatividade. Um jovem pode adquirir a vontade de aprender um novo idioma devido a algumas bandas estrangeiras e para isso ele pode ter acesso a diversos sites de cursos de idiomas gratuitos.

 

Os Livros digitais e a autopublicação?

Um mercado que os livros digitais podem revolucionar é a autopublicação. Há muitas pessoas que poderiam estar escrevendo, mas não concordam com as propostas das editoras, existe um potencial maior de retorno sem atravessadores.

Entrevista Dora Murano

Informação da entrevistada

Nome da Entrevistada: Dora Dias Murano (dona da editora)

Julia Murano e Alessandra (funcionárias)

Formação da Dora: Técnico em Artes Gráficas e Graduação em Publicidade e Propaganda.

Por que o interesse me livros didáticos digitais?

Sempre tive esse interesse em livros didáticos e procurando as tendências. Até que falava em livros digitais e todos me respondiam que iria demorar muito, mas sempre tive vontade. Até fazer um projeto só para mostrar e assim, surpreendi muita gente e todos me falavam que iria longe, mas também havia uma questão “Ipad para escola publica?”. Isso foi em junho de 2011, a editora tem menos de um ano, e o projeto que estamos fazendo hoje é para 2015, até lá terá o livro impresso e digital, porém acreditamos que em 2018 só terá livro impresso quando solicitado. Vai de vagar, mas vai rápido.

Os livros são para que Ensino Fundamental I, Fundamental II e Ensimo Médio? E vocês tem outros projetos?

Temos livros para todos os ciclos, eles são montados em ciclos de 3 anos. Outros projeto estão sendo cobrados, como livros infantis e infanto-juvenil .

Como está o mercado? ( aqui ela falou outra coisa, podemos mudar a pergunta para algo relacionado ao numero de paginas)

Uma página no livro impresso equivale de 3 a 4 páginas no livro digital, isso faz com que as pessoas não estejam familiarizadas. O livro digital tem que ter paridade com o livro impresso e por conta disso é necessário simplificarmos o livro o digital. Mesmo assim, continuamos vendendo normalmente.

Quais são as vantagens do E-BOOK didático ?

A formatação. Pode ter um leiaute rico. O formato Epub é limitado, só pode ter texto e imagem. Porém para um livro texto ele supera o E-BOOK, pode fazer anotações, fichamentos e ferramenta de dicionário. Para um livro didático é necessário que tenha os recursos do E-BOOK para as animações e animação interativa.

Esperasse que o Epub seja equivalente um dia.

E em relação aos livros impressões?

(Alessandra) Logística, você pode se focar mais no conteúdo desenvolvido, o que antes se pensava, por exemplo, na distribuição. O que convergem é o conteúdo nas duas frentes , em 1 você tem as questões “onde guardar? Custo da folha capa, peso.” E agora você pode adquirir em um click, o que é mais natural para quem nasceu nessa geração. Não existe mais lógica da paginação.

(Dora) Do ponto de vista do aprendizado também muda, porque entendemos o conhecimento como texto e o valorizamos, mas se colocar imagem conseguimos muito mais resultado. Se juntas texto e imagem com os recursos do design instrucional para a organização e hierarquização do conteúdo, como infográficos, você consegue potencializar esse conteúdo. Agora junta texto e imagem com animação, mais ainda, animação interativa. Exemplo: para crianças que tem mais dificuldade visual, poder fazer uma uma animação a partir de um gráfico e ainda poder manipulá-la . As possibilidades são imensas. Você ta incluindo crianças que não conseguiriam absorver esse conteúdo .

Como é o processo de distribuição? Quais são as dificuldade de distribuição e produção?

Tem diversos canais de venda, como a loja do Google e do Adobe, todas elas tem o formato de cobrar por download, isso o torna caro. O Adobe cobra 40 centavos por download, por exemplo.

Além disso , mercado de software é nas nuvens e sempre há uma nova atualização e será necessário ceder de algum lado, porque as taxas estão muito caras e não tem recursos para criar o próprio leitor . Os APPS são para andróide ou para Ipad, você não tem um para os dois. Varias questões estão sendo trabalhadas. Acredito que terá negociações.

(Alessandra) Ninguém está muito preparado para suprir a necessidade desse mercado. O mercado não está preparado para a distribuição.

(Dora) Omercado da Apple é muito maior que os andróides. Todos os recursos “rodam” no Ipad, mas nem todos “rodam” no andróide. O andróide é o que falha, ele não supre.

(Julia) A Apple desenvolve, o software, o hardware ,o aparelho, o que vai “rodar” nele, a linguagem da programação e o filtro próprio, o que filtra o que é enviado. Ela ser fechada é uma desvantagem, mas é de melhor qualidade. E o andróide é aberto.

(Ale) Tem um publico muito grande com andróide e é necessário levar isso em conta. Precisa considerar a compatibilidade melhor do Ipad.

(Dora) Em relação a Políticas publicas, o livro tem que rolar em todas as plataformas, um nível de tecnologia que não temos ainda. O exigido para o governo ainda não é possível.

Não só quem produz os livros, mas todos precisam se adaptar, todos estão trabalhando muito.

Nós como consumidores, estamos muito exigentes. Aumentou o padrão de qualidade e partimos desse padrão de exigência. Tem que amadurecer na forma e a tecnologia não atende a demanda desse publico.

Como é a questão dos direitos autorais para livros digitais?

(Dora) É necessário pedir autorização de todas as imagens, vídeos utilizados. Os procedimentos são iguais de um livro impresso.

(Ale) Tem os direitos autorais da parte de multimídia que vai ser publicada e os direitos do livro como objeto fechado com valor agregado. Você tem um arquivo no seu computador, um pdf, por exemplo, que alguém disponibilizou e isso já é um problema gigante que envolve a pirataria e os direitos daquele autor. Muitas pessoas que estão publicando se perguntam: Como nós vamos garantir os nossos direitos e até que ponto a justiça vai nos proteger se alguém nos copiar?

(Dora) Antes as editoras tinham que renegociar contrato com os autores porque elas não tinham previsto a edição dos livros digitais, hoje já se faz os contratos com a autorização para a impressão para os digitais também.

Vocês acreditam que as edições digitais vão superar as edições impressas?

(Dora) Acho que em um tempo mais curto do que a gente imagina, dependendo do público que atenda. No âmbito educacional a gente pode se surpreender em questão de cinco anos. Principalmente em escolas públicas, porque o governo esta investindo bastante nisso. Mas o que é um empecilho sério são as travas que o governo em relação a licitações. Ele precisa comprar produtos nacionais e o que a gente tem de tablet nacional é o YPY da positivo que não tem capacidade de processamento.

(Julia) Esses investimentos do governo não necessariamente motivam a indústria nacional porque eles acabam fazendo exigências mínimas e o mais barato acaba ganhando.

Vocês produzem para a Saraiva, e como é essa saída dos livros digitais, há bastante procura?

(Dora) É bem novo ainda. Para você ver, em 2011 eu fiz uma proposta que não tinha o menor interesse, em 2012 eles fizeram uma versão de teste e em 2013 já é obrigatório. É muito rápido, e é obrigatório para todos os livros do ensino médio.

(Ale) É uma exigência do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), saiu no edital e é daí que vem a multiplataforma, que tem que atender desktop, android, Windows etc.

(Dora) Você vê a rapidez que o mercado tem que atender a uma exigência muito forte, e não existe uma fórmula pronta, é um lugar onde todo mundo esta aprendendo e buscando soluções.

(Dora) Essa edição aqui (ela mostrou no iPad um livro didático) já esta sendo distribuída mas de graça. Quem compra o livro impresso na Saraiva tem o direito de acessar o livro digital.

(Ale) As pessoas que estão encabeçando essa parte de livros digitais pelo Governo ainda tem muita dificuldade, porque eles estão acostumados com o livro impressos, com o número de páginas, com toda essa questão histórica do livro. Então quebrar isso para um formado de livro digital é difícil, eles não conseguem ver que o livro digital trás possibilidades muito enriquecedoras em relação ao conteúdo, colocando interatividade. E com as restrições do Governo, a gente não consegue desenvolver coisas para melhorar o aprendizado do aluno. Então você faz muitas exigências que restringem a uma solução só. E nessa solução você tem poucas possibilidades, e essas possibilidades só defasam o livro digital.

(Dora) Em uma escola particular com bom poder aquisitivo, ai sim ela pode usar todos os recursos, aí é possível fazer o protótipo ideal.

(Ale) O Governo não tem parâmetros, ele esta em um risco. Por não saber muito do assunto eles estão se mantendo afastados.

(Dora) Cautelosos eu acho. Dá para entender. Pra falar bem a verdade eu acho que eles estão se arriscando muito. Eles estão bastante ousados em tudo que eles estão fazendo. É bastante complexo. Porque é diferente você implantar em apenas uma escola e fazer isso em um âmbito nacional, que abrange uma quantidade de livros tão grande.

(Ale) Ao mesmo tempo em que é ousado é limitado. Porque você não tem a quantidade de profissionais necessária para investir nesse projeto. Raramente tem lá (no Governo), alguém que entende de tecnologia para analisar o produto que eles compraram. Eles não têm esse suporte de absorve essa tecnologia para conseguir ter um produto de acordo com a Era dessas crianças. O mundo mudou muito, você (que nasceu há algum tempo atrás) não recebe essa informação da mesma maneira que uma criança. E ainda tem esse distanciamento. Então ao mesmo tempo em que você esta ousando por causa de uma pressão até mundial, você esta se mantendo distante, possuindo apenas uma visão em relação a sua realidade, mas você tem que se adaptar a essa nova realidade. Então não adianta você fazer exigências de algo que você não sabe exatamente como é. E esse é um problema de tudo que é digital atualmente.

(Dora) Ale, você foi um pouco dura. Temos que pensar, quem é o autor do livro? Quantos anos ele tem? E quem é o rapaz jovem e audacioso que tem o conhecimento que esse senhor tem? Então temos que trabalhar juntos. Aquele autor tem mesmo dificuldade de pensar o livro digital, por outro lado o jovem ainda não tem maturidade para fazer. Acho que esta tendo um esforço para fazer essa adaptação.

Vocês acreditam que a disseminação das editoras digitais possa causar um impacto no mercado editorial semelhante aquele causado no mercado fonográfico?

(Dora) Acho. Antigamente você ia escrever um livro, você não era famosa você simplesmente escreveu um bom livro. Aí você tinha que pegar aquele livro e levar em uma editora e alguém tinha que ter paciência de ler o seu livro. Muitas pessoas talentosas não conseguiram publicar seus livros. Hoje em dia a internet facilitou muitas

coisas. Agora é outra relação de trabalho não é mais aquela relação de indústria do livro, mas agora a indústria é prestadora de serviço.

E você acha que essa disseminação vai acontecer por causa da redução do custo de produção?

(Dora) Por enquanto ainda não. Os custos de publicação são muito altos e você tem pouca mão-de-obra para fazer. É muito erro e acerto. A exigência em relação à mão-de-obra ainda esta bem leve, a tendência é aumentar a exigência com o tempo.

(Ale) Em longo prazo você tem uma mudança de direcionamento dos seus interesses. Ao mesmo tempo em que você para de pagar pela folha, você esta pagando para uma pessoa construir o conteúdo. Você tem uma valorização da ideia muito mais do que o meio em que ela esta sendo divulgada.

(Dora) Acredito que terá uma redução de custos futuramente. Mas mesmo assim você tem bastantes gastos porque você economiza no papel, mas você gasta com outras coisas que também não são baratas (animação, por exemplo). Tende a ficar bem sofisticado.

Entrevista com o Senhor Ricardo Amaral

Entrevista com o senhor Ricardo Amaral, presidente do Clube de Autores, empresa de auto publicação que atua no mercado desde 2009. http://www.clubedeautores.com.br

O Clube de Autores também publica livros impressos, mas tenho a impressão que o maior volume de vendas se dá através de e-books. Como surgiu a ideia de uma editora especializada nesse formato?

Na verdade os e-books representam uma parcela bem menor das nossas publicações. Nos temos 21 mil autores e são eles que escolhem o formato no qual querem publicar; a grande maioria publica das duas formas, em papel ou digital, mas a escolha fica para quem comprar. Obviamente que e-book sai muito mais barato [em média os livros publicados em papel custam 5 vezes mais], mas no final das contas o leitor tem optado pelo livro de papel. Isso está mudando, mas a passos ainda muito lentos. Para se ter uma ideia, do total das vendas que a gente tem hoje, apenas 16% é de e-books, o resto é em livro impresso. Quando a gente criou o Clube de Autores em 2009, havia a expectativa de que a maior parcela das vendas seria feita através de livros digitais, até porque era isso que revelavam as pesquisas de mercado, mas não foi o que a gente constatou na prática.

Qual a razão desse crescimento tão lento do consumo dos e-books?

Um deles é que a maioria dos livros digitais são lidos no computador, que não é um ambiente muito amigável para a leitura, por isso o leitor acaba optando pelo impresso. Ainda não é correto dizer que o consumo de tablets esta se popularizando, porque ainda há um longo caminho para isso, mas ainda é uma minoria bem pequena que tem tablete e que o uso efetivamente para a leitura de livros. São questões de mercado e de mudança de mercado, que vão acontecendo com o tempo. Em 2009 nossas vendas de e-books representava 8% do nosso volume total. Esse percentual aumentou, mas numa velocidade mais lenta do que a agente esperava.

Quais são, na sua opinião, as vantagens dos e-books em relação aos livros impressos?

Sem sobras de dúvidas, os livros digitais tem muitas vantagens. Principalmente se você estiver falando para o uso em processos de ensino. Quando um leitor compra um romance, um livro de poemas ou uma não ficção de assunto de seu interesse, ele vai ler o livro de cabo a rabo, vai ler na praia, no metrô, na rua, etc. Neste caso ele prefere o impresso porque é prático para esse tipo de situação. Não precisa se preocupar com a sujeira, a areia ou se vão roubar o seu livro. Já o tablet ou leitores eletrônicos como o Kindle ou o Kobo, os cuidados devem ser maiores. Mas quando se usa um livro de consulta, um livro técnico por exemplo, as vantagens dos e-books são enormes. A possibilidade de se fazer uma busca é um exemplo. Você não precisa ficar folheando o livro para procurar algo que queira; é só dar um search e pronto. Isso acaba criando um estilo de leitura diferente. Sem contar que você pode reunir milhares de obras em um aparelho de 200 gramas [o peso do Kobo] e precisar carregar muito peso para levar muita informação. Ou mesmo num pen-drive, que é muito mais leve. Além dissotudo também tem o preço; os e-books são muito mais baratos. Para reafirmar essas vantagens podemos também fazer o discurso da sustentabilidade: os e-books não derrubam árvores, não obrigam a produção de milhões de litros de tintas feitas à base de derivados de petróleo e que lançam na natureza muitos resíduos tóxicos em sua produção.

Acreditam que as edições digitais vão superar as edições de papel em quanto tempo?

Eu não acho que isso vá acontecer, pelo no menos no Brasil, em um futuro tão próximo. Talvez lá na frete isso aconteça, mas mesmos nas gerações mais próximas ainda estarão usando livros impressos. Nossos filhos e nossos netos ainda estarão usando livros de papel, na minha opinião. Claro que o usos dos eletrônicos vai ser cada vez maior, em tudo na vida, mas os livros de papel não vão desaparecer, como profetizam alguns. Desde que surgiu a internet estou habituado a ouvir previsões fatalistas, que a internet vai matar a TV, que vai matar o cinema, nenhuma delas até hoje ainda se tornou real. Mesmo porque, o que a gente percebe hoje é que os dois mercados estão crescendo, tanto o de impressos quanto o de e-books.

Vocês acha que a disseminação das editoras digitais pulverizadas na rede e que exigem pouca estrutura, possa causar um impacto no mercado editorial semelhante aquele causado ao mercado fonográfico, em razão da redução dos custos para a gravação e distribuição de músicas?

Não sei, porque no caso da indústria fonográfica a mídia na qual a música era transportada era desnecessária, no caso do livro você continua precisando de um suporte, seja um tablete, seja o computador, seja o papel. Até certo ponto a comparação é válida. As grandes gravadoras estavam a anos-luz das exigências do mercado quando surgiram as condições mais fáceis para a gravação e distribuição de músicas em razão da internet e de outros recursos. As grandes editoras do mundo também ainda tem uma visão muito atrasada da demanda nesses novos tempos. Elas estão acostumadas a receber um milhão de originais, selecionar um ou outro e jogar o resto fora, baseando o negócio delas na escassez de conhecimento. É uma ideia oposta ao mundo em que a gente vive hoje. Todas essas editoras enfrentam hoje uma dificuldade de se encontrar, de encontrar um novo modelo de negócio, num mundo que já mudou tanto. E todas tem um modelo de gestão que é o mesmo. São antiquados, tem muita resistência às mudanças, são características muito semelhantes ao do falecido mercado fonográfico. Do ponto de vista de quem é o dono desse mercado literário, a gente vai ter uma mudança tão grande como ocorreu com o mercado fonográfico. Vai deixar de ficar concentrado nas mãos de poucos grandes e vai se disseminar entre os muitos pequenos editores e dos próprios artistas e autores de forma direta, porque hoje já existem muitas condições para isso. Como a nossa instituição que tem como papel permitir o acesso direto aos seu público e isso está funcionando.

Qual é o perfil predominante dos escritores que o Clube de Autores publica? Que tipo de livro que existe em maior oferta no seu portfólio e quais aqueles que representam o maior volume de vendas?

É difícil traçar um perfil, porque nós temos 21 mil autores e quase 100 mil títulos. No Brasil são publicados 50 mil livros digitais por ano e só em 2012 a gente representou 10 % disso, mesmo tendo poucos anos de existência. Nós temos desde o professor universitário que publica o material do seu curso, o que acaba saindo para os alunos em torno de R$ 6 ou R$ 7, muito mais barato do que tirar xerox, além do que o professor é remunerado pelo seu trabalho intelectual. Mas temos livros de autores com 12 anos de idade, que precisam da autorização dos pais para publicar, autores jovens, um senhor nonagenário que escreve sobre jardinagem. Tem tudo, até sobre aqueles micro detalhes que não se acha em nenhum lugar, como visões específicas sobre física quântica. Tem romances, livros de poesias, tem história, ficção científica. Tem editoras com edições esgotadas que nos colocam a disposição os originais para publicarmos on-demand. Por isso, tem de tudo!

Como um autor pode publicar sua obra através do Clube de Autores? Vocês também cuidam da diagramação, ilustração e iconografia?

Nós somos uma empresa de auto publicação, então é o próprio autor que publica diretamente. O autor tem que se responsabilizar por 100% da obra dele. O out-put, a entrega, será exatamente como será publicado e nós não fazemos esta parte técnica editorial propriamente dita, mas temos uma relação de parceiros que fazem isso, revisão, ilustração, capa, etc. e nós os recomendamos aos autores, quando eles próprios não fazem. A grande maioria dos autores já nos entrega os originais prontos para ser publicado. Para saber mais acesse o nosso site www.clubedeautores.com.br

Para refletir

cartoon4É claro que o incremento da utilização de livros eletrônicos vem trazendo novos desafios, sobretudo dentro da escola. A capacitação do professor para o uso de tais recursos é uma delas. As faculdades formadoras de profissionais da educação ignoram essa necessidade ou, no máximo, ainda engatinham nesse aspecto, cabendo às próprias editoras interessadas na sua popularização oferecerem cursos de capacitação aos professores das escolas que começam a usar os livros eletrônicos e outros recursos digitais. Algo muito necessário e urgente nesse momento.

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Quem somos

Entrevista com Robert Darnton

Robert Darnton.
Fonte: harvard

Robert Darnton – diretor da biblioteca de Harvard em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura em 24 SET 2012.

Robert Darnton nasceu em 1939, em Nova York. Filho de jornalistas, graduou-se em história em Oxford. Foi professor de história europeia na Universidade de Princeton. Fundador do programa Gutenberg, atualmente é professor de história e diretor da Biblioteca da Universidade Harvard.

Livro didático

Dora Murano também chama a atenção para a melhoria do aprendizado que esse tipo de publicação pode trazer porque, disse ela, “entendemos o conhecimento como texto e o valorizamos, mas se colocar imagem conseguimos muito mais resultado.” Mencionando as potencialidades de infográficos e animações interativas na educação, afirmou que atende necessidades das  “crianças que têm mais dificuldade visual”, posto que com o material  vem o “ poder de fazer uma animação a partir de um gráfico e ainda o poder de manipulá-la”. Com isso, complementa , “você está incluindo crianças que não conseguiriam absorver esse conteúdo de outra forma.”